quarta-feira, 11 de maio de 2011

Moinho Vicato, o guardião do tempo

Erguidos no início do século passado, os moinhos coloniais simbolizavam o modo de vida dos colonos italianos


O Moinho Vicato fica no centro de Frederico Westphalen e passou por todo o processo de desenvolvimento da mesma, desde que era apenas uma pequena vila de moradores. A casa de alvenaria foi construída por volta de 1930 e resiste ao tempo, conservando intacta uma parte da história da cidade.
Paulo Krzyaniak, com 74 anos de idade é quem zela por esse patrimônio. O Moinho foi adquirido pela família no ano de 1944. Os antigos proprietários, José Ferrari e José Scapin, migrantes de Nova Palma, compraram-na da Cooperativa Vitória. A partir daí, Adão Krzyaniak e os três filhos, Pedro, Vicente e Paulo passaram a se dedicar exclusivamente ao moinho.
Erguidos no início do século passado, os moinhos coloniais simbolizavam o modo de vida dos colonos italianos. Os agricultores levavam sacos de grãos de trigo e milho e voltavam para casa com a farinha. O moinho abastecia toda a região. Após a colheita, agricultores das cidades mais próximas de Frederico Westphalen, como Rodeio Bonito, Vicente Dutra, Irai, Taquarucú do Sul, entre outras, traziam os grãos no moinho para serem moídos.

Negócio de família
Toda a família ajudava na manutenção do moinho, já que uma pessoa sozinha não era capaz de fazer funcionar o moinho. Os livros-caixa, guardados com todo o cuidado no escritório de Seu Paulo trazem o registro dos funcionários da época, inclusive ele e os dois irmãos. Cada um tinha uma atividade e recebia um salário para desempenhá-la.
Paulo era ajudante de foguista, tarefa árdua que consistia em passar o dia alimentando uma caldeira com fogo, espécie de locomotiva que gerava energia para tocar as máquinas. A lenha usada para manter essa produção vinha da colônia e era puxada com carroça. Os irmãos e os funcionários se revezavam nesse trabalho. Nessa época ainda não havia ocorrido a mecanização das lavouras, portanto, havia muito mato no interior.
No ano de 1965, a família instalou equipamentos movidos à energia elétrica. A máquina de moer trigo veio da Inglaterra. Há também uma para fazer farinha de milho e outra que descasca arroz, que vieram de São Paulo. Hoje, todas estas máquinas estão desativadas.
As máquinas são acionadas num painel de controle. O grão passa por um processo, primeiro ele é separado da casca, em seguida, passa por um triturador, que vai moê-lo até transformá-lo em farinha e depois pra última etapa, onde é peneirado, separando as impurezas. A farinha que não era vendida ia para grandes baús de madeira, onde ficava armazenada. Posteriormente, ela seria comercializada em sacos ou bolsas de estopa, que as pessoas traziam de casa. Muitas vezes, os agricultores traziam o trigo ou o milho, em grãos, e trocava pela farinha, já pronta.

Paulo Kryzaniak, uma vida dedicada ao trabalho
O Moinho Vicato possui dois andares e um subsolo, onde está a nascente do Rio Pedras Brancas. Ela é responsável pelo abastecimento da produção desde que ele foi fundado, há mais ou menos 80 anos.
Dentro do moinho, o cheiro de farinha misturado ao odor das madeiras antigas nos remete às lembranças de um passado longínquo, num tempo em que tudo era muito diferente. As famílias eram numerosas, as relações de produção eram outras, o pão e a polenta eram a base alimentar das mesmas, compostas principalmente por imigrantes italianos e alemães.
Com quase oitenta anos de história, muita coisa mudou desde a fundação do moinho. As relações de produção não são as mesmas. Os produtos artesanais foram substituídos pelos industrializados, produzidos em grande quantidade. São poucos os agricultores que ainda trazem seus grãos para serem moídos. A maioria prefere comprar a farinha pronta, nos mercados. Seu Paulo ainda vende arroz, ração para trato de animais, farelo de trigo e concentrado.
Vicente e Pedro faleceram há alguns anos e de lá pra cá, Seu Paulo tem cuidado sozinho do negócio. Mesmo estando aposentado, ele mantém uma rotina de trabalho diária. Acorda cedo todos os dias e pontualmente, às 8 horas da manhã, o moinho é aberto aos clientes. Funciona de segunda a sexta e nos sábados, até o meio dia. Não possui funcionários e apesar da idade, ele diz que não pretende parar de trabalhar, que se sente bem no local onde esteve durante toda a sua vida.
Paulo Krzyaniak guarda com muito carinho um conjunto de preciosidades raras, que perduram ao longo das gerações. Os moinhos provavelmente deixarão de existir com o passar dos anos, mas continuarão vivos na memória das pessoas que assim como ele sabem valorizar a cultura de um tempo que já se foi.


Agradecço ao Sr. Paulo Kryzaniak, Irineu Theisen e Lomir Sanvido por terem partilhado seus conhecimentos e pela atenção dedicada. Obrigada!









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