quarta-feira, 11 de maio de 2011

A vida nos asilos: o peso do envelhecimento

No Lar dos Idosos, o tempo passa devagar./Foto: Marciane Hences.
O envelhecimento da população e o aumento da longevidade de pessoas com capacidades física, cognitiva e mental reduzidas requerem cuidados especiais, e ai entra o papel dos asilos, que acabam funcionando como assistentes sociais

Os asilos existem há muitos anos, porém, o crescente aumento do número de idosos nos asilos é uma conseqüência da sociedade contemporânea, onde a beleza e a juventude são super valorizadas, já a velhice é associada às doenças. Os asilos recebem principalmente pessoas com distúrbios psíquicos ou deficiência mental, já que não existe nenhum outro serviço de saúde ou de assistência social para essas pessoas, que precisam de cuidados especiais.
Outro fator que leva os idosos aos asilos é relacionado ao aumento na expectativa de vida. Segundo dados do censo 2010, realizado pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) a expectativa de vida da população brasileira subiu para 73 anos, 2 meses e 1 dia, na comparação com 1980, o brasileiro ganhou mais 10 anos, 7 meses e 6 dias.
Entretanto, o Brasil não está preparado para os problemas decorrentes do envelhecimento. Devido à falta de programas destinados à velhice e a precariedade da rede de Assistência Social, todos os problemas que a comunidade não consegue resolver são encaminhados aos asilos. O envelhecimento da população e o aumento da longevidade de pessoas com capacidades física, cognitiva e mental reduzidas requerem cuidados especiais, e ai entra o papel dos asilos, que acabam funcionando como assistentes sociais.

Asilo Lar dos Idosos
O Asilo Lar dos Idosos de Frederico Westphalen foi fundado no ano de 1983 e possui hoje 56 idosos, a maioria com idade entre setenta e oitenta anos de idade. O asilo lhes proporciona abrigo, alimentação, recreação e encaminhamento para cuidados médico-hospitalares, quando necessários.

O abandono
Dona Odila Maria Pazuch, 78 anos de idade, natural de Osvaldo Cruz, foi levada até o asilo pelo tio. Ela conta que já foi casada, porém, não teve filhos, trabalhava na roça e morava com parentes, quando ficou doente e não pode mais ajudar na lavoura, a família achou melhor encaminhá-la até o asilo. Ela sofre da doença chamada osteoporose, e só consegue andar apoiada em muletas. No início ela pensou que ficaria apenas por um tempo, se tratando da doença, como foi informada pelos familiares, porém o tempo foi passando e ela nunca mais recebeu a visita de ninguém. Em março fará 09 anos que ela mora no asilo.
O que mais incomoda Dona Odila é o fato dela não poder ajudar nas tarefas diárias. Angustiada, ela conta que sente muita saudade da vida que tinha na roça, do trabalho na lavoura, todos os dias lembra de lá e que sonha em um dia poder voltar a morar na sua antiga casa, onde era muito feliz. (Foto D. Odila)
Já Dona Maria Bueno, de 66 anos de idade, natural de Rio Grande, morava com a filha e o genro em Alto Alegre e também trabalhava na roça. Porém, depois de certo tempo de convivência, não conseguiu mais se acertar com o genro. Ela diz que não vê a filha há três anos já, que foi a última vez que ela veio lhe visitar. ''Qualquer dia eu fujo daqui e vou morar nem que seja numa árvore'', comenta Maria Bueno,o olhar triste, de quem perdeu a esperança num futuro melhor.
Os velhinhos do Lar dos Idosos quase não recebem visitas. A instituição é aberta diariamente para visitação, porém, poucos familiares aparecem. Alguns abandonam ali os pais ou parentes e nunca mais voltam. Eles disfarçam e tentam demonstrar que não se importam, mas é perceptível a tristeza e o vazio no olhar perdido, descrentes da vida e do futuro que lhes aguarda.
Algumas instituições os visitam, por exemplo, nos sábados a tarde vem um grupo de oração, algumas escolas, grupos do Serviço Social do Comércio (Sesc), o Lions Clube do Município, os Vicentinos, algumas empresas como a Bakof, entre outros que também ajudam com doações. Além disso, uma parcela deles recebem visitas dos familiares, alguns tem parentes que moram em outros estados e ligam para saber como eles estão.

A demência
A maioria das pessoas que residem no Lar dos Idosos tem algum distúrbio psíquico ou deficiência mental e são dependentes, pois já não conseguem realizar atividades básicas sozinhos, como tomar banho e alimentar-se. Esse também é um fator que leva as famílias a deixá-los entregues aos cuidados de pessoas mais especializadas, por não saberem lidar com essa situação.
A funcionária Maria Helena Três trabalha há muitos anos no asilo, muito dedicada e carinhosa com os velhinhos, sabe contar a história de cada um deles. Conforme Maria Helena, o dia-a dia no Lar dos Idosos é tranqüilo. Pela manhã, eles se reúnem para tomar café no refeitório, exceto aqueles doentes que precisam de cuidados especiais. Muitos vivem em cadeira de rodas, e alguns já não conseguem sair da cama.

A ilusão
A maioria deles foi levado até o asilo pelos familiares, inclusive pelos próprios filhos. Há casos em que eles são enganados pela família, que diz que os mesmos vão fazer um tratamento por um determinado período de tempo e que assim que ficarem restabelecidos voltarão pra casa. Entretanto, o tempo passa e eles vão ficando, cinco, dez, vinte anos, até o fim de suas vidas.
Conforme Elza Maria Rodrigues, enfermeira, funcionária do Asilo, são diversos motivos que levam os idosos até ali. Alguns chegam ali doentes, com problemas mentais, ‘’eles trabalharam uma vida inteira, e quando ficam mais velhos, doentes, usando fraldas, e já não conseguem mais desenvolver as atividades diárias, como se alimentar e tomar banho sozinhos, a família procura uma forma de interná-los, até pela falta de tempo e de tato para lidar com essa situação’’. Afirma Elza. Muitos chegam no asilo com seqüelas de AVC, diabetes, hipertensão, entre outros. No Lar dos Idosos eles têm cuidados médicos que funciona diariamente.

A tranqüilidade
Alguns souberam enfrentar a realidade e ver nela um aspecto positivo. É o caso de Dona Ambrosina Mello, 69 anos, natural de Frederico Westphalen, que vive no asilo há 10 anos. O motivo que a levou ela a chegar até o asilo é bastante triste, ela conta que tinha uma filha que sofria de depressão e acabou se suicidando. Dona Ambrosina ficou doente, foi internada e nunca mais quis voltar pra casa onde morava, pra não relembrar a filha. Segundo ela, a casa foi fechada como estava e ela nunca mais voltou lá. 
 Ambrosina faz questão de mostrar o seu quarto, as cortinas cor-de-rosa, a cama com colchas da mesma cor, vários porta – retrato dos filhos encima da cômoda. Numa gaveta ela guarda mais fotos de toda a família que faz questão de mostrar. Conforme Dona Ambrosina, a família a visita com freqüência e ela sai dali sempre que pode pra passear e visitar os parentes. No Lar dos Idosos, ela encontrou um segundo lar. Ela diz que se sente bem e que tem uma vida calma e sossegada.
Amália Balzan tem 71 anos e nasceu em Faxinal do Soturno, antes de vir pro asilo, residia em Castelinho, onde morava com a filha e o genro. Porém, depois que seu marido faleceu, ela entrou em depressão e por decisão dela e apoiada pela família, decidiu ficar um tempo se tratando no Lar dos Idosos. No entanto, passado algum tempo, ela acabou se adaptando e gostando do local. Hoje, faz 03 anos que ela reside no asilo e diz que se sente bem e que por enquanto não pretende voltar pra sua casa.A família a visita com freqüência, ela também vai visitá-los e passa alguns dias com eles, viaja também para o estado do Mato Grosso, onde dois de seus filhos residem.


Danilo Mazonetto é feliz no Asilo./ Foto: Marciane Hences.
 A falta de alternativas
Outra história que chama a atenção é de um Senhor bastante jovem que vive no Lar dos Idosos. Danilo Mazonetto tem 55 anos de idade, nasceu em Caiçara e vive no asilo há um ano e meio, ele é portador de necessidades especiais, de uma família de quatorze irmãos, onde oito nasceram com alguma deficiência física. Ele conta que morava com a família e muito jovem ainda, perdeu o pai, passou por diversos problemas devido a sua dificuldade em conseguir um trabalho. Morou algum tempo com uma irmã e depois foi para a Associação dos Deficientes Físicos (ADF) onde viveu por 20 anos e dali veio para o asilo.
No quarto de seu Danilo, é tudo limpo e organizado, uma TV, um rádio digital e alguns livros lhe fazem companhia. Ele diz que é feliz no Asilo, que os funcionários são bons e que o tratam muito bem. ’’Jamais vi uma instituição tão perfeita, os funcionários são muito humanos e tudo é feito pelo bem das pessoas que moram aqui’’. Conclui Mazoneetto.
Poucos tiveram acesso à escolaridade, e exerciam profissão de domésticas, donas de casa, pedreiros e muitos vêm do campo, onde trabalhavam como agricultores. Antes de vir pro asilo, alguns eram maltratados pelos filhos ou familiares. Há casos também em que a pessoa era sozinha, sem família ou parentes próximos e então é encaminhada até ali pela Assistência Social. Em outras situações, por Ordem Judicial, como é o caso de uma senhora que sofria maus tratos em sua própria casa.
Para os cidadãos de baixa renda, estar em um asilo pode significar ter acesso a atendimento médico e a outros cuidados com a saúde que eles não conseguiriam do lado de fora. Há os que foram parar lá por decisão arbitrária da família. Outros que escolheram viver em asilo por achar que teriam mais liberdade do que na casa de parentes ou por se considerarem um peso para os filhos. Portanto, o asilo não é sinônimo apenas de abandono, mas também de proteção.

Conforme a enfermeira da instituição, Elza, qualquer contribuição é bem vinda. Quem quiser ajudar a Instituição pode colaborar com roupas, alimentos, material de limpeza, e até mesmo indo visitar os idosos, que com certeza, ficarão feliz em receber o carinho e apoio da sociedade.


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