domingo, 13 de novembro de 2011

A Culpa nossa de cada dia

Crime e Castigo foi escrito em 1866 por Fiódor Dostoievski, portanto, no século XIX. É impressionante a inteligência e capacidade de análise psicológica de um escritor ao escrever sobre um tema universal, a culpa, há mais de 100 anos atrás. Nessa obra, Dostoievski situa o homem na fronteira entre a racionalização que justifica o crime e a consciência que produz a culpa.
Raskólnikov é o personagem central da história. Estudante pobre, mora sozinho na cidade russa de São Petersburgo, onde iniciou o curso de Direito. Porém por falta de recursos financeiros e problemas pessoais, ele acaba abandonando a universidade. Dono de uma mente febril (como todos os personagens de Dostoievski), sozinho, morando numa espécie de buraco, paupérrimo, com dificuldades para sobreviver na cidade grande, ele resolve matar uma velha usurária, para salvar a si próprio e a sua família.
Entretanto, na medida em que nos aprofundamos na mente de Raskólnikov, percebemos que os motivos pelos quais ele cometeu o assassinato vão muito além da busca por sobrevivência, já que ele rouba apenas algumas jóias, que abandona depois. O personagem comete um homicídio por razões que acredita serem "justas". Segundo ele, se Napoleão Bonaparte e tantos outros, como ele cita num artigo acadêmico cometeram inúmeros assassinatos contra pessoas inocentes, e são aclamados como heróis por diversas nações, (até hoje), porque ele deve ser considerado um assassino? Ele que cometeu apenas um assassinato contra uma velhinha usurária?
Raskólnikov pretendia ultrapassar as barreiras morais da sociedade. Pretendia se libertar de estado de direito que identifica o que é certo e o que é errado, e, não obstante, até da lei de Deus, que está acima dos homens. Liberto de todos esses paradigmas, seria um homem livre.Entretanto, ele não consegue se safar da culpa e passa a ser atormentado pela sua consciência. E a partir daqui se confere toda a magnitude dessa obra da psicanálise que mostra toda a fraqueza do ser humano e a dificuldade de saltarmos as barreiras dentro das quais nascemos e nos adaptamos.
Culpado pelo ato do crime, o estudante passa as noites e os dias num estado de inconsciência, arrependido pelo que fez. Torturado, com os nervos em frangalhos, tem delírios até quando está acordado, vive febril, sente tonturas e anda pelas ruas como um sonâmbulo. E o mais interessante é que durante a leitura do livro, adentramos no cenário daquela São Petersburgo de 1866 e nos sentimos oprimidos, tensos, sofremos junto com o personagem e ficamos com aquela sensação de que algo foi perdido, quebrado para sempre. É como se vivêssemos a angústia de um pesadelo que não termina nunca.
As dúvidas devoram Raskólnikov, seu duelo de conversas com o comissário de polícia destrói-lhe os nervos, apesar da sua inteligência aguçada e sua capacidade em conseguir driblar as investigações durante todo o processo. Por fim, acaba confessando o crime a uma prostituta que lhe mostra o caminho do arrependimento e do Evangelho. E então ele percorre o calvário que o conduz ao arrependimento.
Dostoievski traça uma linha tênue entre a nossa consciência e a existência de Deus. Mas, ''e se Deus não existisse''?Sugere o nosso sábio escritor russo. Sartre também trataria disso em sua obra O Existencialismo é um Humanismo. “Se Deus não existe, tudo é permitido”, afirmou Jean Paul Sartre. E se tudo é permitido, nada pode ser considerado errado e se nada é errado, a culpa deixaria de existir. No caso do romance, a culpa levou à redenção, através da busca de Deus. Confesso que o final me surpreendeu. Todo o desenrolar da obra leva a crer que Raskólnikov se suicidará, ou que acabará enlouquecendo. O fim nos sugere um caminho, uma luz, ou Dostoievski, por piedade, quer apenas poupar a todos nós?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ana Terra

     Ana Terra de Erico Veríssimo é meu clássico predileto,o livro tem um conteúdo forte e emocionante como todos os livros do escritor gaúco. Ele nos conta a história de Ana ,uma jovem que associava os fatos importantes que ocorriam em sua vida com os dias que ventavam.
Num desses dias de vento,Ana saiu para lavar roupas no rio,foi onde encontrou Pedro,ferido na beira da água.Este foi socorrido pelo pai de Ana Terra,e por ali acabou ficando,ajudando os homens no trabalho do campo.
     Após algum tempo Pedro e Ana viveram um romance proibido,pois o rapaz não caía no agrado do velho Terra,que ao descobrir o fato manda os filhos matarem o moço.
Mas aí Ana já se encontra grávida,e nasce um menino,para quem ela se dedica inteiramente,por esse motivo ela é totalmente rejeitada pelo pai e os irmãos.Este livro foi muito especial pra mim,porque na minha adolescência o que eu tinha de mais importante era a companhia dos livros,eu odiava ser mulher,porque na minha opinião elas sofrem mais,Ana Terra também participa desse mesmo pensamento,pois mais tarde quando se torna parteira sempre que ajudava trazer ao mundo mais uma menina ela de certa maneira lamentava o fato. Este foi o livro que mais marcou minha vida de leitora,eu chorei,senti raiva e sofri junto com Ana Terra.
     Erico Veríssimo consegue dar vida para seus personagens de uma maneira impressionante e ainda hoje quando leio Ana Terra consigo me emocionar apesar de já não pensar em ser mulher como algo horrível,ainda vejo a personagem representando a vida de muitas mulheres nos dias de hoje. Esse é um livro que com certeza eu indicaria para alguém que quisesse fazer ima boa leitura.
Hoje,quando tem muito vento,entre todos os personagens de todos oslivros que eu li e que foram determinantes na minha vida,eu lembro de Ana Terra,porque ela não desistia nunca de lutar e essa influência positiva eu levarei sempre comigo.

Ana P. M. W.
Ps: Publiquei esse texto em homenagem a minha eterna amiga de infância, Ana. Nunca soube que capa teria o livro, porque todos os que eu li estavam rasgados. Então idealizei a minha própria personagem. As duas histórias se confundem nos embaralhados das minhas mais tenras lembranças.
Marci Hences

domingo, 17 de julho de 2011

Emma Bovary

Por: André Zagreu.                   

“A chave girou na fechadura e Emma foi direto a terceira prateleira, tal a justeza com que a memória a guiava, pegou no frasco azul, destapou-o, meteu-lhe dentro a mão, tirou um punhado de pó branco e pôs-se imediatamente a comê-lo. Depois, voltou-se, subitamente tranquila e quase com a serenidade de um dever cumprido.”
Essa é a cena onde a personagem, Emma Bovary, do escritor francês Gustave Flaubert, ingere o arsênico que lhe tiraria a vida. A tão famigerada Madame Bovary, após comprovar que a vida não é feita de sonhos realizados, e que tudo o que ela esperava do amor não se comprovou, resolveu que o suicídio seria o melhor fim para todas as suas dores e angústias.
Ema é a personificação de uma época, ou melhor, de um idealismo poético que disseminou-se por todo um século, onde o amor era visto como algo belo a ser conquistado;,e uma vez em posse deste amor, a felicidade e a realização seriam a razão da existência humana.
Após o fim do romantismo, esse sentimento bovariano perdura como um acessório a moda antiga, que ainda insistimos em usar. Mudam-se os tempos, e o homem é sempre o mesmo. Se olharmos em volta, neste nosso belo século XXI, perceberemos que todos, sem exceções, buscam o mesmo que Ema buscava: a realização de uma vida “romântica”, em que o amor seria o integro baluarte. E por incrível que pareça, todos sem exceções, descobrem o mesmo que a personagem, que o amor, e a realização no amor, são uma grande utopia.
Só o que mudou, o que nos diferencia de personagens como Emma, é que nossa solução para o problema é menos trágica, e menos bela por sinal. Já não recorremos ao arsénico para espalhar aos quatro cantos de nosso bairro, que a odisseia romântica é feita de frustrações e no fundo é inútil. Sonhamos os mesmos sonhos, Madame Bovary somos nós. Qualquer um que tenha vivido um relacionamento amoroso, sabe que nada se concretiza de acordo com nossos anseios. O amor hoje em dia é algo pesado, uma espécie de obrigação, páginas em branco, só isso.
Sentimos-nos como Emma, e para solucionar nossa angústia, procuramos aventuras e distrações em relacionamentos pobres e frios. Nos acostumamos a isso, tanto que continuamos “vivendo” após nossas infinitas desilusões. Preferimos viver uma vida mecânica e cinza, a nos deitarmos ao lado de Emma, na doce relva do dever cumprido.

O Som e a Fúria

Por: André Zagreu

Quando comprei o livro O Som e a Fúria de William Faulkner, confesso que fiquei um tanto incrédulo quanto aos inúmeros elogios a ele dedicados. Imaginava que me depararia com um daqueles romances da geração perdida, com suas linguagens simples e diretas, e digamos um tanto quanto vazios de conteúdo. Quem gosta de Hemingway pode me insultar, mas não há nada nele; mas concordo que O Grande Gatsby do Fitsgerard é um livro a se reler. Indico Babbitt do Lewis, este sim vale a leitura.
Mas continuando no Faulkner, o livro é originalmente brilhante. Se ouso dizer isso é porque em nenhum outro livro encontrei a mesma construção fragmentada do enredo e a mesma alegoria de multinarrativas. Toda e estória do livro precisa ser descoberta pela leitura atenta e perscrutadora. O primeiro capítulo, narrado pelo doente mental Benjamin, é uma espécie de súmula dos fatos, alem de ser nada menos do que fantástico acompanhar a narrativa de um ponto de vista muito além da racionalidade a qual estamos acostumados.
Todos os personagens tem seu direito a voz. Eles narram a trajetória de uma família norte americana na primeira metade do século XX, sua ruína, e a ruína de seus integrantes, que são tragados pela força de um auto destinar-se.
Um fato interessantíssimo da obra, é que Faulkner a escreve no momento em que decide ignorar o gosto do público e utilizar sua plena liberdade criativa. Inspira-se em Joyce e Proust para criar uma das melhores obras norte americanas, a ponto de sob intensa leitura, ser reconhecido como um dos grandes escritores do século XX.
Para quem considera a literatura algo maior do que estórinhas de amor e de aventura, esse livro é de leitura obrigatória. Leia-o!



quarta-feira, 11 de maio de 2011

A vida nos asilos: o peso do envelhecimento

No Lar dos Idosos, o tempo passa devagar./Foto: Marciane Hences.
O envelhecimento da população e o aumento da longevidade de pessoas com capacidades física, cognitiva e mental reduzidas requerem cuidados especiais, e ai entra o papel dos asilos, que acabam funcionando como assistentes sociais

Os asilos existem há muitos anos, porém, o crescente aumento do número de idosos nos asilos é uma conseqüência da sociedade contemporânea, onde a beleza e a juventude são super valorizadas, já a velhice é associada às doenças. Os asilos recebem principalmente pessoas com distúrbios psíquicos ou deficiência mental, já que não existe nenhum outro serviço de saúde ou de assistência social para essas pessoas, que precisam de cuidados especiais.
Outro fator que leva os idosos aos asilos é relacionado ao aumento na expectativa de vida. Segundo dados do censo 2010, realizado pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) a expectativa de vida da população brasileira subiu para 73 anos, 2 meses e 1 dia, na comparação com 1980, o brasileiro ganhou mais 10 anos, 7 meses e 6 dias.
Entretanto, o Brasil não está preparado para os problemas decorrentes do envelhecimento. Devido à falta de programas destinados à velhice e a precariedade da rede de Assistência Social, todos os problemas que a comunidade não consegue resolver são encaminhados aos asilos. O envelhecimento da população e o aumento da longevidade de pessoas com capacidades física, cognitiva e mental reduzidas requerem cuidados especiais, e ai entra o papel dos asilos, que acabam funcionando como assistentes sociais.

Asilo Lar dos Idosos
O Asilo Lar dos Idosos de Frederico Westphalen foi fundado no ano de 1983 e possui hoje 56 idosos, a maioria com idade entre setenta e oitenta anos de idade. O asilo lhes proporciona abrigo, alimentação, recreação e encaminhamento para cuidados médico-hospitalares, quando necessários.

O abandono
Dona Odila Maria Pazuch, 78 anos de idade, natural de Osvaldo Cruz, foi levada até o asilo pelo tio. Ela conta que já foi casada, porém, não teve filhos, trabalhava na roça e morava com parentes, quando ficou doente e não pode mais ajudar na lavoura, a família achou melhor encaminhá-la até o asilo. Ela sofre da doença chamada osteoporose, e só consegue andar apoiada em muletas. No início ela pensou que ficaria apenas por um tempo, se tratando da doença, como foi informada pelos familiares, porém o tempo foi passando e ela nunca mais recebeu a visita de ninguém. Em março fará 09 anos que ela mora no asilo.
O que mais incomoda Dona Odila é o fato dela não poder ajudar nas tarefas diárias. Angustiada, ela conta que sente muita saudade da vida que tinha na roça, do trabalho na lavoura, todos os dias lembra de lá e que sonha em um dia poder voltar a morar na sua antiga casa, onde era muito feliz. (Foto D. Odila)
Já Dona Maria Bueno, de 66 anos de idade, natural de Rio Grande, morava com a filha e o genro em Alto Alegre e também trabalhava na roça. Porém, depois de certo tempo de convivência, não conseguiu mais se acertar com o genro. Ela diz que não vê a filha há três anos já, que foi a última vez que ela veio lhe visitar. ''Qualquer dia eu fujo daqui e vou morar nem que seja numa árvore'', comenta Maria Bueno,o olhar triste, de quem perdeu a esperança num futuro melhor.
Os velhinhos do Lar dos Idosos quase não recebem visitas. A instituição é aberta diariamente para visitação, porém, poucos familiares aparecem. Alguns abandonam ali os pais ou parentes e nunca mais voltam. Eles disfarçam e tentam demonstrar que não se importam, mas é perceptível a tristeza e o vazio no olhar perdido, descrentes da vida e do futuro que lhes aguarda.
Algumas instituições os visitam, por exemplo, nos sábados a tarde vem um grupo de oração, algumas escolas, grupos do Serviço Social do Comércio (Sesc), o Lions Clube do Município, os Vicentinos, algumas empresas como a Bakof, entre outros que também ajudam com doações. Além disso, uma parcela deles recebem visitas dos familiares, alguns tem parentes que moram em outros estados e ligam para saber como eles estão.

A demência
A maioria das pessoas que residem no Lar dos Idosos tem algum distúrbio psíquico ou deficiência mental e são dependentes, pois já não conseguem realizar atividades básicas sozinhos, como tomar banho e alimentar-se. Esse também é um fator que leva as famílias a deixá-los entregues aos cuidados de pessoas mais especializadas, por não saberem lidar com essa situação.
A funcionária Maria Helena Três trabalha há muitos anos no asilo, muito dedicada e carinhosa com os velhinhos, sabe contar a história de cada um deles. Conforme Maria Helena, o dia-a dia no Lar dos Idosos é tranqüilo. Pela manhã, eles se reúnem para tomar café no refeitório, exceto aqueles doentes que precisam de cuidados especiais. Muitos vivem em cadeira de rodas, e alguns já não conseguem sair da cama.

A ilusão
A maioria deles foi levado até o asilo pelos familiares, inclusive pelos próprios filhos. Há casos em que eles são enganados pela família, que diz que os mesmos vão fazer um tratamento por um determinado período de tempo e que assim que ficarem restabelecidos voltarão pra casa. Entretanto, o tempo passa e eles vão ficando, cinco, dez, vinte anos, até o fim de suas vidas.
Conforme Elza Maria Rodrigues, enfermeira, funcionária do Asilo, são diversos motivos que levam os idosos até ali. Alguns chegam ali doentes, com problemas mentais, ‘’eles trabalharam uma vida inteira, e quando ficam mais velhos, doentes, usando fraldas, e já não conseguem mais desenvolver as atividades diárias, como se alimentar e tomar banho sozinhos, a família procura uma forma de interná-los, até pela falta de tempo e de tato para lidar com essa situação’’. Afirma Elza. Muitos chegam no asilo com seqüelas de AVC, diabetes, hipertensão, entre outros. No Lar dos Idosos eles têm cuidados médicos que funciona diariamente.

A tranqüilidade
Alguns souberam enfrentar a realidade e ver nela um aspecto positivo. É o caso de Dona Ambrosina Mello, 69 anos, natural de Frederico Westphalen, que vive no asilo há 10 anos. O motivo que a levou ela a chegar até o asilo é bastante triste, ela conta que tinha uma filha que sofria de depressão e acabou se suicidando. Dona Ambrosina ficou doente, foi internada e nunca mais quis voltar pra casa onde morava, pra não relembrar a filha. Segundo ela, a casa foi fechada como estava e ela nunca mais voltou lá. 
 Ambrosina faz questão de mostrar o seu quarto, as cortinas cor-de-rosa, a cama com colchas da mesma cor, vários porta – retrato dos filhos encima da cômoda. Numa gaveta ela guarda mais fotos de toda a família que faz questão de mostrar. Conforme Dona Ambrosina, a família a visita com freqüência e ela sai dali sempre que pode pra passear e visitar os parentes. No Lar dos Idosos, ela encontrou um segundo lar. Ela diz que se sente bem e que tem uma vida calma e sossegada.
Amália Balzan tem 71 anos e nasceu em Faxinal do Soturno, antes de vir pro asilo, residia em Castelinho, onde morava com a filha e o genro. Porém, depois que seu marido faleceu, ela entrou em depressão e por decisão dela e apoiada pela família, decidiu ficar um tempo se tratando no Lar dos Idosos. No entanto, passado algum tempo, ela acabou se adaptando e gostando do local. Hoje, faz 03 anos que ela reside no asilo e diz que se sente bem e que por enquanto não pretende voltar pra sua casa.A família a visita com freqüência, ela também vai visitá-los e passa alguns dias com eles, viaja também para o estado do Mato Grosso, onde dois de seus filhos residem.


Danilo Mazonetto é feliz no Asilo./ Foto: Marciane Hences.
 A falta de alternativas
Outra história que chama a atenção é de um Senhor bastante jovem que vive no Lar dos Idosos. Danilo Mazonetto tem 55 anos de idade, nasceu em Caiçara e vive no asilo há um ano e meio, ele é portador de necessidades especiais, de uma família de quatorze irmãos, onde oito nasceram com alguma deficiência física. Ele conta que morava com a família e muito jovem ainda, perdeu o pai, passou por diversos problemas devido a sua dificuldade em conseguir um trabalho. Morou algum tempo com uma irmã e depois foi para a Associação dos Deficientes Físicos (ADF) onde viveu por 20 anos e dali veio para o asilo.
No quarto de seu Danilo, é tudo limpo e organizado, uma TV, um rádio digital e alguns livros lhe fazem companhia. Ele diz que é feliz no Asilo, que os funcionários são bons e que o tratam muito bem. ’’Jamais vi uma instituição tão perfeita, os funcionários são muito humanos e tudo é feito pelo bem das pessoas que moram aqui’’. Conclui Mazoneetto.
Poucos tiveram acesso à escolaridade, e exerciam profissão de domésticas, donas de casa, pedreiros e muitos vêm do campo, onde trabalhavam como agricultores. Antes de vir pro asilo, alguns eram maltratados pelos filhos ou familiares. Há casos também em que a pessoa era sozinha, sem família ou parentes próximos e então é encaminhada até ali pela Assistência Social. Em outras situações, por Ordem Judicial, como é o caso de uma senhora que sofria maus tratos em sua própria casa.
Para os cidadãos de baixa renda, estar em um asilo pode significar ter acesso a atendimento médico e a outros cuidados com a saúde que eles não conseguiriam do lado de fora. Há os que foram parar lá por decisão arbitrária da família. Outros que escolheram viver em asilo por achar que teriam mais liberdade do que na casa de parentes ou por se considerarem um peso para os filhos. Portanto, o asilo não é sinônimo apenas de abandono, mas também de proteção.

Conforme a enfermeira da instituição, Elza, qualquer contribuição é bem vinda. Quem quiser ajudar a Instituição pode colaborar com roupas, alimentos, material de limpeza, e até mesmo indo visitar os idosos, que com certeza, ficarão feliz em receber o carinho e apoio da sociedade.


Selaria Sanvido, pra você não cair do cavalo

Selas, arreios, pelegos, rédeas, cuias, tudo que acompanha o cavaleiro, pode ser encontrado na selaria de Lomir Sanvido

Ainda é cedo quando chego na propriedade onde o Sr Lomir Sanvido confecciona manualmente selas para cavalo, no interior de Frederico Westphalen. Ele não se intimida com minha presença, nem com os flashs da câmera, e continua seu trabalho tranqüilamente, ora riscando o couro, ora recortando-o ou costurando as peças soltas que irão compor as selas.
Lomir Sanvido tem 54 anos de idade e é natural da cidade de Irai, onde começou a trabalhar nesse ofício, por volta do ano de 1988. Ele diz que sempre gostou de cavalos, o que é perceptível em suas vestimentas, típicas de um gaúcho. Ia muito a rodeios de tiros de laço, chegando até a montar algumas vezes.Na época, trabalhava na prefeitura de Iraí, mas não se sentia satisfeito com seu trabalho. Foi então que Lomir passou a ver no ofício de confeccionar selas de montaria para cavalos, um meio de vida.

O início da profissão
Lomir Sanvido iniciou fazendo algumas selas, que vendia entre os amigos e conhecidos. Porém, o negócio prosperou tanto que ele resolveu registrar a empresa que nascia. De pequeno porte, chegou a ter oito funcionários, além dele e da esposa, Olga Sanvido, que também trabalhava na empresa.
A “Selaria Sanvido’’ia de vento em popa. Lomir e a esposa vendiam selas para diversas cidades no Estado do Rio Grande do Sul, também para o Paraná, Mato Grosso e Santa Catarina. “Na cidade de Dionísio Cerqueira, tínhamos exclusividade com um atacado”, explica Sanvido.
Entretanto, depois de alguns anos, as vendas passaram a cair, e Lomir passou a sentir na pele a desvalorização da sua profissão. “As selas feitas manualmente levam mais tempo para ficar pronta, e geralmente são confeccionadas com couro legítimo, o que encarece o produto e leva o consumidor a procurar aquelas produzidas industrialmente. Entretanto, a sela feita de forma manual, possui maior qualidade e leva muitos anos para se desintegrar”, explica Sanvido.
Não obstante a diminuição das vendas, uma fatalidade do destino viria antecipar as sombrias previsões do Seu Lomir.Por volta de 1994, um cliente de Ijuí encomendou diversos produtos, a entrega foi realizada na data marcada, porém o pagamento da mercadoria não foi efetuado. O prejuízo foi muito grande, a empresa precisou usar as economias guardadas durante anos, e apesar dos esforços de todos, a Selaria Sanvido decretou falência.
No ano de 2001, Lomir, a esposa e o filho se mudam para Frederico Westphalen, indo residir no bairro Fátima. Irai já não inspirava futuro e aqui eles sonham retomar e dar um novo rumo ao negócio.

Como é feito o trabalho
As selas são feitas de couro, e possuem diversas peças que juntas, irão compor uma sela: basto, bacheiro ou chergão, carona, serigote ou sela, loros ou estribos, chincha com barrigueiro, pelego, sobrechincho, rédea com cabeçada, bucal com cabresto, peiteira, freio.
Ele vende atualmente para lojas de São Miguel do Oeste, Chapecó, Iporã do Oeste, Erechim, Passo Fundo, Soledade, Casca e principalmente, Alegrete, na região da campanha. As selas são feitas por encomenda e Seu Lomir mesmo faz as entregas nas cidades onde foi feito o pedido. Além das lojas, os pedidos são feitos por pessoas que usam as selas para rodeios, em torneios de laço, o que exige montarias mais reforçadas. Há também aqueles que utilizam o cavalo para a lida no campo, e que necessita de montaria. Além disso, Lomir também faz reformas de selas.
Depois de prontas, as selas custam em torno de R$ 400 e podem variar até R$ 600, dependendo do que o cliente pedir. Todas são feitas manualmente. A única máquina utilizada é a de coser tecido. As selas levam de dois a três dias para ficar pronta.

A desvalorização do trabalho manual
Hoje, a profissão de Lomir não é tão valorizada quanto deveria. “Eu prezo pela qualidade dos serviços que presto aos consumidores, procuro oferecer um produto de excelente qualidade”, explica Sanvido. Segundo ele, alguns compradores consideram os produtos caros, e por isso preferem comprar selas prontas, feitas de outro material. Algumas são feitas com borracha, são mais fáceis de fazer e por isso levam menos tempo para ficar pronta. O material utilizado também é mais barato, tudo isso acarreta num valor menor do produto. Em compensação, duram bem menos que as confeccionadas por Seu Lomir.
Quando pergunto ao Seu Lomir qual a sua opinião sobre as mudanças ocorridas na sociedade, em que a indústria substituiu o trabalho manual do homem ele me diz que ele pertence a uma época em que se prezava pelo valor real das coisas, onde um produto durava uma “vida inteira” e quando se adquiria algo se sabia que era de qualidade. Não era como hoje, num mundo consumista, onde as coisas são descartáveis, se compra, se utiliza e logo se joga fora. Por outro lado, ele confessa que não soube acompanhar as mudanças ocorridas no sistema de produção capitalista, por isso precisou fechar sua empresa, demitir os funcionários e se mudar para Frederico Westphalen.
O número de seleiros reduziu bastante nos últimos anos. Porém, ainda existe grande procura por parte das pessoas que utilizam cavalos nas carroças, tração animal, em rodeios, ou simplesmente cavalgam por esporte.
Selas, arreios, pelegos, rédeas, cuias, tudo que acompanha o cavaleiro pode ser encontrado na selaria de seu Lomir. O trabalho artesanal é feito com muito cuidado e exige anos de aprendizagem.Tudo é feito à mão e com couro legítimo. Nesses vinte anos de profissão, Lomir Sanvido se orgulha de fazer um trabalho que preza pela qualidade e satisfação do cliente.



Alfaiataria, uma profissão que resiste ao tempo

O talento, aliado ao trabalho, são os responsáveis pelo sucesso de Irineu Theisen, que trabalha há 30 anos como alfaiate


Foto: Marciane Hences

Irineu Theisen nasceu no ano de 1955 e trabalha como alfaiate há trinta anos, mantendo viva uma das profissões mais antigas do mundo. Aluga uma loja no centro da cidade de Frederico Westphalen, onde confecciona ternos masculinos. A atividade foi herdada do pai, que tinha uma alfaiataria na cidade de Pinheirinho do Vale. A família se mudou pra cá por volta dos anos 80, com o objetivo de expandir as vendas, pois já possuíam aqui uma vasta freguesia.
Enquanto o pai trabalhava, Irineu, ainda menino, ficava observando-o, e assim foi tomando gosto pelo ofício. Aos poucos, o pai foi lhe ensinando a fazer os primeiros cortes no tecido, que iam tomando formas. Começavam aí os contornos de sua futura profissão.
Seu Irineu diz que ama o trabalho que faz e nunca pensou em mudar de área. A profissão, passada de pai para filho, é realizada com obstinação por ele. Quando há muitas encomendas, fica na loja mais de doze horas por dia, e até nos sábados.
Ele trabalha com moda masculina, para adultos, mas são os ternos que alavancam o negócio. Ele também confecciona bombachas, coletes, e faz algumas reformas, mas somente para clientes já conhecidos, “isso atrasa o restante das confecções”, explica Irineu. Na época de inverno, muitas pessoas encomendam sobretudos, o que aumenta muito as vendas.

Como é feito o trabalho
O cliente vem até a loja, escolhe a cor, o tecido, tira as medidas, paga adiantado 50% do valor e então fica acertado o dia da entrega, quando será pago o restante. “Eu insisto para que o interessado venha até a loja e prove o terno depois de pronto, então, se for necessário algum ajuste, já faço antes da entrega, para que o cliente saia satisfeito”, afirma Irineu.
A clientela da alfaiataria se mantém fiel há anos. Alguns se mudaram para outras cidades, como Chapecó e Passo Fundo. “Tenho até um cliente de Jataí, estado de Goiás. Eles encomendam os ternos por telefone. O valor cobrado é depositado na minha conta e as roupas, depois de prontas, são enviados pelo correio”, explica Irineu.
Os ternos, depois de prontos, custam em torno de R$ 300 à R$ 400.Os tecidos são encomendados de São Paulo. Os mais usados são tergal, viscose e poliéster. Os ternos pretos são os mais vendidos, pois “o preto nunca sai de moda”, afirma Irineu.
Pacientemente, ele risca o tecido com pedaços de giz, recorta, alinhava, passa a ferro as pecas soltas. E os primeiros vestígios de um terno vão se formando em cima da mesa. Por fim, costura as peças soltas, numa máquina modelo Singer, acomodada a um canto da sala. Incansável, ele passa o dia todo labutando. Sem funcionários, faz todo o trabalho sozinho. Se há muitos pedidos acumulados, leva algumas peças para casa e não descansa enquanto não faz as entregas, sempre na data marcada.

A substituição do trabalho manual pelas máquinas
A alfaiataria de Irineu Theisen resistiu à Revolução Industrial. Atualmente, as alfaiatarias cederam espaço para as lojas de tecido, que produzem em grande escala, de forma padronizada. Os tecidos usados são de toda espécie, dos mais comuns aos mais rebuscados e as marcas variam de acordo com a possibilidade de compra dos consumidores. A pressa na produção também é mais um fator que ajudou a suplantar toda uma geração de alfaiates.
Mas a história de Irineu Theisen não tem um final triste, pelo contrário, é uma história de sucesso. Irineu conta que já recebeu diversos convites para confeccionar ternos em outros estabelecimentos, inclusive nas Lojas Tevah, em Porto Alegre. Entretanto, ele recusou, já que gosta de fazer seus horários, o que lhe proporciona uma certa independência, por isso prefere ter seu próprio negócio.
Portanto, apesar do avanço tecnológico e do surgimento de novas atividades no mercado de trabalho, algumas resistem ao tempo. Irineu conseguiu sobreviver à influência massificante da indústria da moda. O talento, aliado a uma rotina pesada de trabalho são os responsáveis por seu sucesso.
Irineu Theisen têm uma ampla freguesia. Quanto à fórmula para o sucesso, ele responde “as pessoas preferem pagar um pouco mais e ter uma roupa personalizada”. E com relação à propaganda? Ele afirma que em todos esses anos de profissão, nunca colocou anúncio em qualquer veículo de comunicação. “A propaganda é o próprio cliente que faz”, finaliza o alfaiate.


Apesar do avanço tecnológico e do surgimento de novas atividades no mercado de trabalho, algumas resistem ao tempo.

Moinho Vicato, o guardião do tempo

Erguidos no início do século passado, os moinhos coloniais simbolizavam o modo de vida dos colonos italianos


O Moinho Vicato fica no centro de Frederico Westphalen e passou por todo o processo de desenvolvimento da mesma, desde que era apenas uma pequena vila de moradores. A casa de alvenaria foi construída por volta de 1930 e resiste ao tempo, conservando intacta uma parte da história da cidade.
Paulo Krzyaniak, com 74 anos de idade é quem zela por esse patrimônio. O Moinho foi adquirido pela família no ano de 1944. Os antigos proprietários, José Ferrari e José Scapin, migrantes de Nova Palma, compraram-na da Cooperativa Vitória. A partir daí, Adão Krzyaniak e os três filhos, Pedro, Vicente e Paulo passaram a se dedicar exclusivamente ao moinho.
Erguidos no início do século passado, os moinhos coloniais simbolizavam o modo de vida dos colonos italianos. Os agricultores levavam sacos de grãos de trigo e milho e voltavam para casa com a farinha. O moinho abastecia toda a região. Após a colheita, agricultores das cidades mais próximas de Frederico Westphalen, como Rodeio Bonito, Vicente Dutra, Irai, Taquarucú do Sul, entre outras, traziam os grãos no moinho para serem moídos.

Negócio de família
Toda a família ajudava na manutenção do moinho, já que uma pessoa sozinha não era capaz de fazer funcionar o moinho. Os livros-caixa, guardados com todo o cuidado no escritório de Seu Paulo trazem o registro dos funcionários da época, inclusive ele e os dois irmãos. Cada um tinha uma atividade e recebia um salário para desempenhá-la.
Paulo era ajudante de foguista, tarefa árdua que consistia em passar o dia alimentando uma caldeira com fogo, espécie de locomotiva que gerava energia para tocar as máquinas. A lenha usada para manter essa produção vinha da colônia e era puxada com carroça. Os irmãos e os funcionários se revezavam nesse trabalho. Nessa época ainda não havia ocorrido a mecanização das lavouras, portanto, havia muito mato no interior.
No ano de 1965, a família instalou equipamentos movidos à energia elétrica. A máquina de moer trigo veio da Inglaterra. Há também uma para fazer farinha de milho e outra que descasca arroz, que vieram de São Paulo. Hoje, todas estas máquinas estão desativadas.
As máquinas são acionadas num painel de controle. O grão passa por um processo, primeiro ele é separado da casca, em seguida, passa por um triturador, que vai moê-lo até transformá-lo em farinha e depois pra última etapa, onde é peneirado, separando as impurezas. A farinha que não era vendida ia para grandes baús de madeira, onde ficava armazenada. Posteriormente, ela seria comercializada em sacos ou bolsas de estopa, que as pessoas traziam de casa. Muitas vezes, os agricultores traziam o trigo ou o milho, em grãos, e trocava pela farinha, já pronta.

Paulo Kryzaniak, uma vida dedicada ao trabalho
O Moinho Vicato possui dois andares e um subsolo, onde está a nascente do Rio Pedras Brancas. Ela é responsável pelo abastecimento da produção desde que ele foi fundado, há mais ou menos 80 anos.
Dentro do moinho, o cheiro de farinha misturado ao odor das madeiras antigas nos remete às lembranças de um passado longínquo, num tempo em que tudo era muito diferente. As famílias eram numerosas, as relações de produção eram outras, o pão e a polenta eram a base alimentar das mesmas, compostas principalmente por imigrantes italianos e alemães.
Com quase oitenta anos de história, muita coisa mudou desde a fundação do moinho. As relações de produção não são as mesmas. Os produtos artesanais foram substituídos pelos industrializados, produzidos em grande quantidade. São poucos os agricultores que ainda trazem seus grãos para serem moídos. A maioria prefere comprar a farinha pronta, nos mercados. Seu Paulo ainda vende arroz, ração para trato de animais, farelo de trigo e concentrado.
Vicente e Pedro faleceram há alguns anos e de lá pra cá, Seu Paulo tem cuidado sozinho do negócio. Mesmo estando aposentado, ele mantém uma rotina de trabalho diária. Acorda cedo todos os dias e pontualmente, às 8 horas da manhã, o moinho é aberto aos clientes. Funciona de segunda a sexta e nos sábados, até o meio dia. Não possui funcionários e apesar da idade, ele diz que não pretende parar de trabalhar, que se sente bem no local onde esteve durante toda a sua vida.
Paulo Krzyaniak guarda com muito carinho um conjunto de preciosidades raras, que perduram ao longo das gerações. Os moinhos provavelmente deixarão de existir com o passar dos anos, mas continuarão vivos na memória das pessoas que assim como ele sabem valorizar a cultura de um tempo que já se foi.


Agradecço ao Sr. Paulo Kryzaniak, Irineu Theisen e Lomir Sanvido por terem partilhado seus conhecimentos e pela atenção dedicada. Obrigada!









domingo, 27 de fevereiro de 2011

A leveza e o peso


A Insustentável Leveza do Ser é um dos meus livros preferidos. A obra foi escrita por Milan Kundera e publicada em 1984. Como pano de fundo dessa história que se passa em 1968, temos a cidade de Praga, capital da Tchecoslováquia, na época em que ocorre a invasão russa e é permeada pelo clima de tensão política frente a guerra que aproxima (Primavera de Praga). Nessa obra prima, que aliou literatura a filosofia, aparecem conceitos de Nietzsche, Parmênides, Sartre e o mais maravilhoso, o próprio escritor entra na história num processo de metalinguagem.
      Kundera narra os amores e os desamores de quatro pessoas: Tomás, Teresa, Sabina e Franz. Teresa é uma moça simples, do interior, enquanto Tomas é um rapaz rico, médico renomado e muito bonito. Os protagonistas se conhecem num bar onde Teresa trabalhava, numa cidade do interior. Após alguns dias, ela faz as malas e procura Tomas na cidade grande (Praga). Tomas fica com pena da moça e não consegue mandá-la embora, pois ela é uma criatura frágil e desprotegida, ele se sente responsável por ela, é como se tivessem abandonado um bebe na sua porta, aos seus cuidados.
  A partir daí os dois passarão a viver juntos. Entretanto, existe Sabina, mulher com quem Tomas mantêm uma relação amorosa de liberdade longe dos padrões pré-estabelecidos. Esta mulher é como se fosse a versão feminina do personagem. Tomas e Sabina são metáforas da leveza do ser, o ser jogado dentro de uma perspectiva existencialista sartreana, são seres condenados à liberdade de escolher.
Tomas possui outras amantes, mas compreende que todas suas buscas é um retorno ao mesmo, um retorno a Tereza. Tereza, por sua vez, tenta se encaixar numa ordem, mas percebe o peso de se manter sobre os grilhões de suas ideias. Franz parece-se com Tereza, busca se situar em algo, mas a casualidade rompe com os seus planejamentos e caminhos retos.

A relação peso/leveza de Parmênides
Portanto, o gênero romance é apenas a âncora para Kundera por em questão a filosofia pré-socrática de Parmênides que criou a teoria da relação peso/leveza. Segundo o filósofo, a problemática estava na dualidade do Ser, e que essa dualidade surge da presença e da ausência de entidades. Por exemplo, o frio é apenas a ausência de calor, as trevas são a ausência de luz, então, embora estejamos acostumados com o novo pensamento lógico da vida, para este filósofo a relação leveza/peso afirma o peso como ausência, como não-leveza.
Tomas é um personagem que se recusa a carregar o peso da vida, vivendo sem nenhum compromisso, sejam de ordem política, nas relações amorosas, enfim, o personagem escolhe ser “leve”, ou seja, livre.

Nietzsche e o mito do eterno retorno
 O mito do Eterno Retorno é um conceito desenvolvido pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Foi durante um passeio em 1881 que Nietzsche refletiu sobre os sentidos das vivências em alternâncias que se “repetem” (A Gaia Ciência).
De acordo com Nietzsche, as alternâncias de prazer e desprazer, a dor e o deleite, a alegria e o sofrimento se repetem durante a vida. O Eterno Retorno não se reporta a uma demarcação temporal cíclica e exata, mas às nossas vivências durante a vida. No Eterno Retorno, não há temporalidade. E essa vida, da forma como vivemos, se repetirá pela eternidade.
E aqui Nietzsche revela um pensamento que para alguns pode ser assustador, “Se tudo retorna – o prazer e o desprazer– queremos mesmo viver à eternidade onde nada de novo irá acontecer além de vivências com nuances variadas de uma mesma realidade?”
Talves Milan Kundera tenha tentado demonstrar isso. Se tudo é uma repetição, nossas vidas se tornam muito mais comuns e sem grandes significados. Tomas e Teresa são apenas mais um casal, como tantos outros. Até mesmo a forma como os dois morrem nos mostra que somos seres comuns, que podemos morrer a qualquer instante e de uma forma bastante banal. E se a vida se repete eternamente, nossa existência poderá ser leve, de uma leveza quase insustentável.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Crianças Prodígio : A inteligência que vêm de berço
Especialistas revelam que, para uma criança se tornar mais apta que a média, é preciso que sua capacidade seja estimulada desde o nascimento

Crianças prodígios são aquelas que possuem um nível de inteligência acima da média. São bastante precoces, por isso, desde cedo desenvolvem um talento excepcionalmente notável por uma ou mais áreas científicas ou possuem talento intelectual ou artístico. Ao contrário da maioria das crianças, estas geralmente são autodidatas, e sozinhas ou ensinadas por um adulto, possuem muita facilidade em aprender.
Muitos estudos vêm sendo realizados nessa área e demonstram que talento não se herda. Após séculos de pesquisas sobre a inteligência humana, especialistas revelam que, para uma criança se tornar mais apta que a média, é preciso que sua capacidade seja estimulada desde o nascimento.

Exemplos de Crianças Prodígio
Yong - Ung nasceu em 1962, na Coréia. Com quatro anos de idade, ele já lia em japonês, coreano, alemão e inglês. Com nove anos recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Matemática Espacial e Cálculo Diferencial. Aos 12 anos recebeu um título em Física Nuclear. Ele possui um QI de 210.
Outro caso de criança prodígio é Gregory Smith. Ele nasceu em 1990 e com dois anos de idade já sabia ler, aos 10 anos começou a freqüentar a universidade. Também viajou pelo mundo inteiro com ativistas buscando os direitos da criança. Ele é o fundador da International Youth Advocates, uma organização que promove passeatas pela paz e compreensão entre os jovens do mundo inteiro
Gabriel Scapin é um exemplo de criança prodígio. Ele é frederiquense, tem 12 anos de idade e estuda na sexta série do Ensino Fundamental. Além do colégio, ele faz aulas de natação duas vezes por semana, cursa inglês desde os nove anos de idade e também faz aulas de catequese. Porém, essas são apenas as atividades que ele precisa cumprir obrigatoriamente.
Gabriel também possui uma Rádio Web e um Blog que ele desenvolve junto com seu amigo, Jonathan da Silva, de 14 anos. Gabriel conta que tudo começou em 2008 quando ganhou um computador da mãe. Ele tinha curiosidade e vontade de criar uma rádio web. Então ele passou a ler manuais, procurou ajuda no google, assistiu alguns vídeos institucionais e em agosto de 2008 ele criou um Blog e Rádio Web. O Blog se chama Top List, a Capital da Música Eletrônica.
Gabriel tem a programação toda estruturada com diversos quadros que vão ao ar durante o sábado e domingo. Por exemplo, às 8.30 hrs do sábado, é transmitido o programa Top Kids, que são desenhos para crianças. Às 21 horas do domingo, ele transmite o programa pânico na Tv, produzido pela Rede Tv.
    O programa Inverno Winnanp chama a atenção. É transmitido às 21 hrs de sábado. É um programa de humor, onde Gabriel atua como apresentador e mediador. Junto com o irmão e um grupo de amigos, eles se reúnem no quarto dele, criam um cenário e gravam programas de humor com câmera HD, depois ele edita e posteriormente, transmite para os ouvintes.

Criatividade associada ao uso da Internet
Gabriel faz parte da nova geração que já nasceu na era digital e como tal, sabe usar muito bem as ferramentas da Internet. Além do Blog, ele usa e-mails, msn, orkut e conhece diversos programas no computador, como aqueles para editar áudio, vídeo, remixar músicas, entre outros. Ele diz que não faz questão de criar contas em outras redes sociais, como twitter e facebook para não ter mais trabalho depois, verificando todas.
O pai, Marcos Scapin, apóia a iniciativa do filho e quer que ele desenvolva mais esse talento. Porém a mãe, Silvia Scapin, fica um pouco apreensiva, com receio de que ele se dedique apenas para a programação do rádio e deixe de fazer outras coisas que também são importantes para sua aprendizagem.
Gabriel afirma que usa a Internet somente nos finais de semana, já que precisa fazer a programação da Rádio. A mãe controla o tempo que ele fica no computador. Durante a semana ele reserva as manhãs pra estudar e fazer os temas do colégio. ‘’Durante a noite então, é proibido acessar a Internet’’ diz ele. Entretanto, ele entende que isso é necessário e até frisa que é importante que os pais controlem o tempo dos filhos na Internet.
Apesar da inteligência e precocidade de Gabriel, ele não deixa de ser um menino normal. Torcedor do Internacional, ele gosta de brincar nas horas de folga e jogar vídeo game com o irmão. Conforme a mãe de Gabriel, ele tem boas notas no colégio. Gabriel diz que sua matéria preferida é matemática e quando crescer pretende trabalhar como apresentador de Tv.

Dicas para estimular a inteligência na infância

Só o estímulo cerebral não cria crianças-prodígio. Conforme estudo de alguns cientistas, existem várias formas de estimular o cérebro desde a infância. A prática da natação a partir dos seis meses de idade é um bom estímulo para a mente da criança, porque ativa a motricidade e a coordenação motora, além de melhorar a respiração e o metabolismo da criança. Alguns pesquisadores afirmam também que o afeto é muito importante para o desenvolvimento da inteligência da criança.
Outra dica se refere à música. De acordo com o filósofo Platão, a música é um importante instrumento de formação, por seu vínculo com a aritmética e o pensamento abstrato. A capacitação musical amplia o nível racional da criança. Entretanto, a educação musical é a primeira a ser eliminada dos currículos escolares quando o orçamento está apertado, sem falar que na maioria das escolas a música não é incluída no ensino infantil.
Entretanto, é preciso ter muito cuidado na educação dessas crianças. Muitas vezes, a cobrança e expectativa exageradas (seja dos pais, seja da sociedade) podem prejudicar o desenvolvimento saudável da criança. É importante que os pais entendam que sua ajuda é fundamental para que desenvolvam seu potencial. Mas sempre com bom senso.
Portanto, os pais podem ajudar a desenvolver a inteligência da criança. Mas é preciso ensinar sempre com serenidade, para não estimular demais a criança. Se ela não estiver predisposta, o resultado será nulo, por isso não se deve insistir até cansá-la. É preciso responder a todas as suas perguntas, instigando naturalmente a sua curiosidade e fazendo o possível para que busque suas próprias respostas.